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Já a Seguir

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É preciso falar de saúde mental.

Manuel Reis, 23.06.20

Escrevi uma versão disto ontem à noite, no Twitter, enquanto via o penúltimo episódio da 5.ª temporada de Mad Men (ando a ver a série e, sem grandes spoilers, foi algo irónico ter calhado nesta altura). Fica aqui, com algumas edições para o tornar mais coeso.

Se calhar, em vez de criminologistas, astrólogos, homeopatas, "nutricionistas" que tiraram o curso no Instagram, ou nos códigos das marcas ou vendedores de banha da cobra (literalmente)… se calhar os programas de daytime podiam começar a apostar a sério em falar de saúde mental.

Mas, siga; é o ciclo do costume de "suicida-se um famoso, ai que pena, coitadinho, coitadinha da família, ninguém sabia de nada, ninguém percebia nada", discute-se um bocado de que lado está a razão, noticia-se o método de forma muito específica e sem querer saber das repercussões que pode ter e segue-se em frente. A verdadeira contribuição para a ajuda fica para outro dia. Se é que aparece, de todo.

Não consigo condenar uma pessoa que se mate. Eu não sei o que vai na vossa cabeça. (Às vezes nem sei o que vai na minha.) Mais depressa lhe chamo um acto de coragem - que também não é uma descrição positiva, parece-me um bocado romântica.

Mas a verdade é que é preciso alguma dose de coragem. E não ir em diante não é nenhum sinal de cobardia. É querer tentar outra vez. Tal como falhar e viver para contar a história não é nenhum sinal de incompetência; é… sorte. (Ver isto pelo lado positivo.)

Eu acredito que um suicídio por doença mental é, ou devia ser, uma morte evitável. É isso que custa mais nesta situação: ver um tipo, que até me parecer ter uma vida minimamente boa, que é bem referenciado por todos os que o rodeiam (nunca o conheci nem falei com ele, mas tinha boa impressão), a apagar-se, assim.

Mas essa decisão só é tomada aliada a um grande nível de desespero, e de cansaço desse desespero. Físico ou - no caso deste monólogo - mental. E esse cansaço aumenta, e aumenta, e aumenta. Porque falar sobre isso "é um sinal de fraqueza".

Não é.

O tabu tem de acabar. E é aí que a televisão tem de entrar. Televisão a sério. Isto aqui na net é muito giro, mas a televisão continua a ter um poder MUITO mais abrangente. O que passa lá vem para aqui. Claro, o que escrevo aqui de nada vale se não passarem por lá especialistas devidamente credenciados - psicólogos, psiquiatras, etc. - que desfaçam o bicho de sete cabeças.

Em resumo, algumas coisas que vou repetindo a mim mesmo para manter a sanidade mental:

  • nunca estás sozinho;
  • não há vergonha nenhuma em falar disto;
  • haverá sempre um caminho;
  • pede ajuda;
  • o que os outros pensam de ti? Que se f*dam os outros.

Gostava de evitar o vídeo do cão, mas é a melhor metáfora audiovisual que encontrei até hoje.

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